Futuro Garantido | Carolina Rocha



Tínhamos prometido há algum tempo a crónica Futuro Garantido, e depois de nessa altura lançarmos a primeira versão desta crónica com a guarda-redes Diana Monteiro, hoje vamos falar de uma das 10 jogadoras que participaram num dos momentos mais emblemáticos do futsal português, a conquista dos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018.

Falamos então de Carolina Rocha, mais conhecida por Carol no mundo do futsal e que aos 20 anos conta já por passagens em clubes como GDC Cohaemato, AR Restauradores Avintenses e Novasemente GD, bem como com internacionalizações pelas camadas jovens das seleções portuguesas, todos estes momentos retratados no filme deixado no fim da crónica, mas falaremos então de tudo isso por partes

 

» O INICIO NO COHAEMATO

Nascida a 15 de Janeiro de 2000, a jovem leceira desde cedo que mostrou as suas qualidades com a bola nos pés, e foi com 7 anos que se estreou no mundo do futsal pelas mãos do Cohaemato, clube onde fez captações a convite de um amigo, como a própria nos relata: “A bola sempre foi a minha paixão. Estava na escola, como habitual, um dos meus amigos levou um panfleto da Cohaemato para captações. Na altura eu fiquei curiosa porque o rapaz em questão era muito meu amigo e fiquei mais feliz pela ideia de jogar na mesma equipa dele do que propriamente da aventura que me esperava e mal eu sabia. Falei com a minha mãe e ela com entusiasmo disse para eu experimentar. O meu pai levou-me ao meu primeiro treino, eram aos sábados e domingos e foi aí que percebi que afinal aquilo era mais do que eu imaginei e que queria muito mais do futsal”.

Ainda assim, Carolina era a única rapariga da sua equipa neste conjunto, algo que contudo naquelas idades tão reduzidas não era entrave, e que fez com que a integração acontecesse “naturalmente e com rapidez”, tendo ainda a própria jogadora acrescentado que foi “muito bem recebida, os rapazes acolheram-me sempre muito bem” e tal como referimos inicialmente, falou dessa indiferença das crianças: “Ser criança puxa inocência e naquele tempo foi fantástica a maneira como rapidamente criei laços e amizade com todos. Eu era “mais um” no meio deles e isso facilitou tudo o resto. Ser a única rapariga era especial, os misters tratavam-me como a “princesa” da equipa e claro que eu adorava”.

Não existindo assim problemas em integrar uma equipa masculina dada a reduzida idade de todos, esta experiência só lhe trouxe benefícios, até porque como a própria Carolina admite, “há características individuais que eu acho eu só por jogar com rapazes é que são possíveis de adquirir, ou que então se desenvolvem com mais facilidade. A intensidade de jogo é outra, a agressividade, a exigência, tudo isso acelerou o meu crescimento e evolução. Jogar com rapazes fez-me ser melhor tecnicamente acima de tudo e fez-me crescer a todos os níveis”.

 

» O PROJETO FEMININO DO RESTAURADORES AVINTENSES

Em  2014/15, Carol ainda começou a época na Cohaemato mas mudou-se no inicio de 2015 para os Restauradores Avintenses, algo que não aconteceu por qualquer motivação, mas sim por um estimulo: “O treinador do Restauradores Avintenses, André Teixeira, mostrou interesse em que eu integrasse no seu plantel e apresentou-me o projeto que na altura se vivia e eu acabei por ficar igualmente interessada”.

Ainda assim, Carol admitiu que “foi difícil deixar a primeira casa que me acolheu (e que bem que me acolheu) e partir para uma aventura completamente diferente, mas a verdade é que as dificuldades de integração a nível de jogo já surgiam, e de que forma, e esse foi o maior empurrão” acrescentando ainda que “é importante perceber e reconhecer quando já não dá e essa era a minha maior dificuldade pois a parte sentimental falava sempre mais alto e eu preferia estar com eles e não jogar do que ter que os deixar porque o valor que aquele clube tinha e tem para mim era inigualável”, mas a jovem internacional portuguesa vê mesmo esta como uma mudança importante, e fechou este assunto dizendo que “fecham-se umas portas para se abrirem outras e entrar nos Restauradores foi outra porta igualmente importante no meu crescimento”.

Nos Restauradores foram apenas 2 temporadas e meia, mas cheias de novas experiências e de aprendizagens, sendo que estas acabaram coroadas com um titulo de campeã nacional de juniores, algo que para Carolina “foi muito bom pela maneira como aconteceu e pelo grupo que tínhamos”.  Quanto a essa mesma conquista, Carol afirma que “é uma das recordações que guardo juntamente com a medalha que tanto ambicionamos”, mas acrescenta que “os Restauradores eram mais do que títulos e conquistas, eram casa, família”.

Sobre a experiência no Restauradores Avintenses, a jovem leceira admite que o melhor que tira desses quase três anos no clube são “as pessoas que hoje em dia ainda tenho comigo e faço questão de as levar para a vida. Foi lá que dei grandes passos e conquistei objetivos individuais muito importantes, mas isso só aconteceu, como referi anteriormente, pelo grupo de pessoas que me rodeava. Não há palavras que expliquem a sensação de em tão pouco tempo conseguir amar um clube e gostar de jogar por ele, por amor à camisola. Tive os melhores exemplos do meu lado e isso intensificou tudo o que aprendi e vivi. Foi com muito pena minha que este ciclo se fechou”.

 

» DEPOIS DO FIM DE CICLO, SEGUIU-SE O NOVASEMENTE

Carolina saiu do Restauradores Avintenses no final da época 2016/17, numa saída em bloco que ditou o final do projeto de futsal feminino do clube, algo que a jogadora recorda com tristeza: “O encerramento do projeto foi como morrer na praia. Na altura achei que nunca mais seria feliz no futsal, porque como disse, o que movia o clube eram as pessoas e o espírito que estas tinham em comum, a vontade de enaltecer o símbolo que tínhamos ao peito. A despedida foi dura e a aceitação igualmente complicada, principalmente porque aquela foi a casa que me acolheu depois de ter deixado a minha primeira casa e não podia estar mais grata do que estava naquela altura porque fui recebida e integrada, mais uma vez, de uma maneira única. Quando achava que as coisas não podiam estar melhores é quando elas acabam. Mas faz parte!”

Seguiu-se então o Novasemente, clube onde Carolina tem estado nas grandes decisões tanto do Campeonato, como de Taças e Supertaças Portuguesas, mas que acaba por ver sempre esses títulos a fugirem para o SL Benfica. Ainda assim, esta realça a subida do nível competitivo que sentiu nessa mudança de Avintes para Espinho: “A ida para a Novasemente foi uma subida importante. Trouxe-nos experiências e vivências novas e únicas. Só naquele clube era possível a consecutiva presença na quantidade de competições que vivemos nestes 3 anos. Um clube diferente, mais exigente, mais competitivo. Igualmente trabalhador e competente. Tem sido uma experiência muito boa, gosto muito de cá estar”.

Ainda assim nem tudo são rosas neste percurso de Carolina, e desde que chegou ao Novasemente, a jovem jogadora nunca completou uma fase de Apuramento de Campeão. Nas duas primeiras temporadas no clube teve lesões nessa altura que a impossibilitaram de jogar, e esta época, o mesmo terminou sem que se jogasse essa mesma fase.

Ainda assim Carolina não olha para estas lesões como entrave para a sua evolução, mas ao mesmo tempo afirma que “é uma fase decisiva onde claramente gostava de contribuir para o sucesso da minha equipa e onde sei que teria mais visibilidade por ser o período do campeonato mais competitivo onde a competência e exigência são maiores, fazendo com que cada pequeno pormenor tenha um impacto diferente e decisivo. Uma coisa leva à outra e claro que se pudesse jogar o apuramento de campeão o aproveitaria para crescer a todos os níveis”.

 

» O ORGULHO NACIONAL

Para alem de todos os feitos a nível de clubes, Carolina conta já com 20 internacionalizações jovens por Portugal, às quais juntas a conquista de um Torneio de Desenvolvimento da UEFA, esta que a mesma considera como uma “conquista importante pois tínhamos perdido o primeiro em Oliveira de Azeméis, em nossa casa, contra Espanha e acabamos por fazer o mesmo que elas, vencemos o torneio em Madrid, contra Espanha”, mas o melhor estava para vir uns dias depois.

Em Outubro de 2018, Carol fez então parte dum grupo de 10 jogadoras que conquistaram os Jogos Olímpicos da Juventude, naquela que foi a primeira edição onde o futsal participou. Para a jogadora, esta “foi a maior e melhor conquista que tive e tivemos. Não existem palavras que descrevam esta experiência única. Foi uma jornada complicada, pela tanta diferença de tudo, pelas saudades da família, pela rotina chata que tínhamos, mas tudo valeu a pena pelo Ouro”. Carol não esconde que este momento é vivido ainda com muita emoção por ela: “Aquela foi a nossa família naqueles dias e cantar o hino no pódio de medalha ao peito foi arrepiante. Escrevi hoje, a caminho de 2 anos depois e ainda me arrepio. Foi muito bom, muito merecido e foi uma motivação enorme e um reconhecimento gigante da nossa modalidade e género”.

Falta ainda um patamar no que a representar o nosso país diz respeito, a Seleção A. Foram já várias as pré-convocatórias para a seleção, incluindo numa pré-convocaria mais alargada para o Euro 2019, mas ainda não participou em nenhum estágio da seleção principal. Carolina admite que “as pré-convocatórias são importantes” e acrescenta que estas são “sinal de que esse sonho pode estar perto”, mas acredita que isso “é algo que vai acontecer no momento certo e justo para tal”.

Este sonho da seleção é algo que esta jovem promessa portuguesa não esconde a ambição e que acrescenta que tem “de fazer por mais para começar a ser uma verdadeira opção. É isso que ambiciono, chegar à Seleção A”, mas questionada sobre o que pode acrescentar a essa mesma seleção, Carolina não escondeu a dificuldade da pergunta, mas atirou que pode “certamente acrescentar muita vontade, disponibilidade e ambição em prol dos objetivos traçados e de os conquistarmos”.

 

» SIMBOLOS E REFERÊNCIAS

Quem segue o percurso de Carolina sabe que esta joga habitualmente com o número 5, ou com o número 15, e esta explicou-nos a utilização dos dois números: «Cresci a gostar do 5 e a ser o 5 em todo o lado. Joguei na Cohaemato sempre com o 5. Quando cheguei ao Restauradores a capitã, Júnior, era o 5 e disse-me “vais ter que esperar uns aninhos para poderes vestir esta camisola”. Já lá vão uns 6/7 e espero uma vida toda porque enquanto não o puder vestir é sinal que a tenho do meu lado e abdico de olhos fechados do número por isso. Cheguei ao Restauradores dia 14 de Janeiro de 2015, fazia 15 anos no dia seguinte, 15. Na altura o Teixeira disse “fazes 15 anos amanhã, dia 15, estamos em 2015” e a Wallace completou “E vais chegar a casa e vais ter 15 notificações no Facebook”, cheguei a casa e tinha 15 notificações no Facebook. Ri-me e assim ficou o 15 com o meu 5 sempre presente».

Este número não vem então de nenhum ídolo ou referencia, mas como todos temos isso, acabou por ser questionada então quanto a isso e depois de uma gargalhada inicial, acabou por responder: “Sempre gostei muito da Inês Fernandes, do Benfica, pela postura em campo. Mas a minha maior referência ao longo destes anos tem sido uma só, Andreia Marques, conhecida por “Júnior”.

Junior acaba por não ser só uma referência, mas é considerada pela mesma como uma das pessoas mais importantes para aquilo que atingiu até aos dias de hoje, mas aí a número 5 do Novasemente não está só: “As pessoas que tenho sempre presentes comigo são a minha Mãe, que é razão de tudo, o meu Super Pai e o meu querido Luzia. A família é sempre a base de tudo. Se tivesse que fazer um destaque para alguém a nível quadra/pessoal, seria para as minhas companheiras de vida, Júnior e Angelica” acrescentando sobre estas duas últimas que é “eternamente grata por ter estas duas pessoas na minha vida. São amigas, como família, são as melhores pessoas que tenho comigo e que me ajudam a crescer todos os dias. Nunca existirão palavras que consigam exprimir o sentimento tão forte que sinto por elas”.


» MENSAGENS DE ANGÉLICA E JUNIOR


Como é costume nestas crónicas, estivemos então à conversa com estas últimas duas que destacou, e pedimos uma pequena mensagem para/sobre a Carolina:

A Angélica, mais conhecida por Jé, foi mais contida nas palavras, e começou com um “Olá melhor do mundo” e acrescentando: “não sou muito de palavras como tu sabes, mas era só para te dizer que tenho muito orgulho em ti naquilo que és, como atleta mas acima de tudo como pessoa. Espero continuar sempre do teu lado”.

Já Andreia Marques, ou Junior como é conhecida no mundo do futsal, deixou uma mensagem mais emotiva: “sabes que aquilo que temos ultrapassa o balneário, ultrapassa o clube, ultrapassa o futsal. Para mim seria fácil desistir de ti, mas NUNCA o fiz nem NUNCA o vou fazer, porque eu confio em ti, confio nas tuas qualidades, confio na tua essência mais do que tu e mais do que qualquer outra pessoa. Porque eu sei que tens tudo em ti para brilhar e ser brilhante! Só precisas do incentivo e das palavras certas das pessoas certas! Nunca te esqueças que para mim foste, és e continuas a ser a tal. A tal que nasceu com aquilo que os outros chamam de talento”.


 

» O FUTURO E AS MENSAGENS FINAIS

Depois de todo este retrato duma carreira que já vai longa tendo em conta a ainda curta idade de Carolina, resta-nos então terminar com umas mensagens final da mesma aos seus seguidores e aos mais jovens, mas antes disso falámos ainda dos objetivos para o futuro da sua carreira e a resposta foi muito clara: “Do futsal pretendo chegar aos maiores palcos lado a lado com as pessoas que me têm acompanhado até hoje. Esse é o objetivo”.

No que às mensagens finais diz respeito, Carolina começou então por falar aos seus seguidores e também aos seguidores do Novasemente, clube que representa atualmente, e disse: “Obrigada por serem e estarem presentes. Espero juntamente das minhas colegas continuar a orgulhar-vos e dar-vos aquilo que merecem. Não percam nunca a esperança porque nós também não”.

Para terminar a entrevista, desafiámos ainda Carol a uma mensagem para as meninas mais jovens que, mesmo estando numa altura onde este desporto já é mais aceite para o seu género, ainda têm uma dura batalha para chegar ao nível a que esta já chegou, tendo obtido então a seguinte mensagem: «Não desistam nunca. Nunca parem de tentar. Trabalhem sempre em prol dos vossos objetivos e não subestimem os vossos sonhos. Reconheçam o vosso valor e não cometam o erro de se compararem a quem quer que seja. Somos todas diferentes e é isso que nos torna especiais. Acreditem incondicionalmente naquilo que querem, pois esse é o primeiro passo para conseguirem e “não queiram demais, querer é bom, mas em demasia torna-se um erro. O sucesso acontece quando deixamos de pensar nele”, palavras da minha Júnior.»

No fim deixou ainda uma mensagem de agradecimento à Zona Técnica: “Obrigada pela oportunidade e interesse! É sempre um gosto relembrar a quantidade de coisas fantásticas que esta modalidade me proporciona desde tão cedo”, sendo que da nossa parte queremos também deixar um agradecimento à Carolina pela disponibilidade apresentada, e para terminar, como prometido de inicio, deixamos então um vídeo com alguns dos melhores momentos desta jovem leceira que há mais de uma década tem encantado nas quadras por onde passa: 


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