Albita, a lusodescendente que brilha em Espanha
A 6 de Novembro de 2001 em Madrid, nascia Alba Fernández Raimundo, jovem jogadora do Futsi Atlético Navalcarnero.
Olhando para esta primeira frase pode parecer uma introdução tradicional dum texto sobre uma jogadora espanhola, mas olhando para o nome desta jovem, que é cada vez menos uma promessa e mais uma certeza no futsal feminino espanhol, vemos logo algo que solta a curiosidade, o sobrenome Raimundo.
É um sobrenome que será certamente mais usual em Portugal que em Espanha, e Albita como é carinhosamente reconhecida no mundo do futsal enverga esse sobrenome porque tem de facto origens lusas.
Albita é a filha mais velha de Margarida Marinho, que é de Sanfins do Douro, freguesia com cerca de 1500 habitantes que pertence ao concelho de Alijó, distrito de Vila Real e que viva predominantemente da agricultura e das vinhas quando aos 26 anos esta decidiu emigrar para Espanha à procura de um futuro mais risonho e por lá tem permanecido até aos dias de hoje.
Dos dois rebentos que teve, Albita é então a mais velha e desde cedo que mostrou o seu interesse pela bola, tendo começado a praticar futsal logo aos 5 anos e desde então numa mais parou nem mudou de clube, esteve sempre no Futsi Atlético Navalcarnero, clube que já teve outros nomes devido a parcerias existentes.
Neste clube que é um dos crónicos candidatos ao titulo em Espanha, Albita estreou-se pela equipa principal aos 15 anos e foi tendo algumas chamadas isoladas até que em 2019/20 ficou de forma efetiva nesse plantel onde se mantem agora, ela que é também figura habitual nas seleções madrilenas que disputam os campeonatos nacionais (idêntico aos interassociações de Portugal) e é também internacional Jovem por Espanha, tendo defrontado já por duas ocasiões a seleção Portuguesa, algo que só não aconteceu mais vezes porque em 2018 teve uma grave lesão que a afastou dos Jogos Olímpicos da Juventude e de mais algumas competições jovens.
É estudante de CAFYD (Ciências da Actividade Física y del Deporte) na Universidade Autónoma de Madrid, mas desconhece o Mundial Universitário, e sem dar mais spoilers sobre a vida de Albita deixamos então a conversa que tivemos com a jovem jogadora, mas não sem antes agradecer à mesma pela disponibilidade demonstrada e à mãe Margarida pela ajuda a ultrapassar a barreira linguística nesta entrevista:
ZT - Antes de falar em futsal queremos saber o que sentes quando ouves falar em Portugal? Que significado tem este país para ti?
Albita - Obviamente que Portugal é um país especial para mim! Não só porque a minha família materna é daí, mas também porque vou à terra desde pequena.
ZT – Costumas viajar muitas vezes para Portugal? É um país com o qual te identificas?
Albita - Costumo ir pelo menos duas vezes por ano! Estou bastante identificada, principalmente pela família e em especial pela minha avó.
ZT – Como surgiu o futsal na tua vida?
Albita - Foi algo casual. Eu gostava de jogar à bola e um dia conheci uma pessoa que me perguntou se queria jogar ao futsal numa equipa de meninas. Aceitámos a oferta, e desde esse momento nunca mais deixei de praticar. A Marília (brasileira que treina a Equipa B do Atlético) foi muito importante no meu trajeto, ela foi a minha treinadora desde que comecei até chegar à primeira equipa.
ZT – Foste para o Futsi logo com 5 anos e nunca mais de lá saíste. Desde os primeiros tempos no clube o teu foco sempre foi em chegar à equipa principal?
Albita - Quando era pequena, só queria jogar e desfrutar. Depois de muito tempo e com mais idade, descobri que queria avançar e chegar ao topo dentro do meu clube, ou seja à equipa principal.
ZT – Acabas por te estrear nessa equipa com 15 anos, como foi para ti com essa idade receber a notícia que tinhas sido chamada à equipa?
Albita – Foi sem dúvida uma das melhores sensações na minha vida desportiva porque me estava a estrear pelo meu clube de coração. Quando entrei na quadra só tinha em mente viver e aproveitar ao máximo esse momento.
ZT – Já desde a temporada passada que fazes parte da equipa sénior de forma permanente, será certamente um sonho concretizado. Que outros sonhos queres concretizar ainda no futsal?
Albita – Sim, foi um sonho tornado realidade! Tenho muitos mais sonhos, como por exemplo, ganhar um liga com a minha equipa ou poder jogar uma competição oficial com a Seleção Absoluta do meu país...
ZT – Falemos agora de seleções. Primeiro pelas regionais onde a representar Madrid foste recentemente campeã de Espanha. Como madrilena é algo que te enche de orgulho representar essa seleção?
Albita - Evidentemente, é um orgulho ser eleita para representar a tua seleção territorial, ainda para mais quando essa é a cidade onde nasceste.
ZT – Já na seleção espanhola foram 5 jogos nas sub-17 e agora um jogo pelas sub-21. Onde estavas quando recebeste a notícia da primeira convocatória e o que sentiste? E quanto a esta última convocatória, como foi jogar numa seleção de esperanças contra as melhores da atualidade espanhola e atuais campeãs europeias?
Albita - A primeira convocatória com a seleção espanhola, estava em casa e recebi um telefonema do presidente do meu clube. Senti uma alegria imensa.
Quanto à convocatória para as sub-21, foi uma surpresa, mas ao mesmo tempo, una honra poder jogar contra as melhores da Europa.
ZT – Desses 6 jogos pela seleção dois foram contra Portugal. Há algum misto de emoções por estares a jogar contra o país da tua mãe, ou é igual a qualquer outro jogo?
Albita- Quando entro num jogo só tenho um pensamento, que é contribuir ao máximo para a minha equipa e ganhar a partida.
ZT – Na tua ainda curta carreira de futsalista, tanto em termos de clubes como na seleção acabaste por ser prejudicada com uma grave lesão em 2018 que te afastou mesmo talvez da grande competição em que podias ter participado, os Jogos Olímpicos da Juventude. Como foi ver isso tudo de fora? É a maior magoa que tens na tua carreira falhares essa competição?
Albita - Como atleta sim! Foi uma das piores fases da minha vida, não só, por não poder participar nos Jogos Olímpicos da Juventude, mas também por não poder jogar e estar parada durante um ano. Mas, com a lesão também aprendi coisas positivas.
ZT – Entraste este ano no ensino universitário. Não sei se conheces a realidade de uma seleção universitária e dum Mundial Universitário, mas gostavas de representar o teu país numa competição dessas?
Albita - Para ser sincera, desconhecia a existência de um mundial universitário e este ano devido à pandemia não temos possibilidade de realizar a competição.
Num futuro, se me for dada a oportunidade de jogar um mundial universitário, não teria nenhuma dúvida em aceitar.
12 – Quem são as tuas referências no mundo do futsal?
Albita - Quando era pequena, gostava muito de ver jogar a primeira equipa e desde sempre houve jogadoras extraordinárias, é impossível nomear apenas uma.
Hoje em dia tenho a felicidade de jogar com e contra as melhores e estão no top, todas elas!
ZT – Falando também em referências, costumas acompanhar o que se faz por Portugal? Que jogadoras mais destacas daquelas que conheces?
Albita - Sim! Costumo manter-me informada sobre o futsal português.
Quanto às jogadoras que mais destaco também é difícil, mas conheço praticamente todas as jogadoras da seleção A.
ZT – Deixa uma mensagem final aos portugueses e a todos os que leram estas tuas palavras
Albita - Portugal é um país com una beleza extraordinária! Pela sua cultura e principalmente pela sua gente. Sempre amáveis, com vontade de ajudar. Muito obrigado por me tratarem sempre com tanto carinho.
Por último, o meu agradecimento à Zona Técnica pelo interesse em fazer esta entrevista.
Muito obrigado!!!
A Liga espanhola é também uma das que a Zona Técnica acompanha com as Fichas de Jogo, e poderá sempre verificar os resultados do Subgrupo A onde se inclui o Futsi Atlético de Albita carregando aqui.